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Bibliomaníaca: o que li em maio
Me desculpem: eu não sou só uma pessoa chata e previsível que "adora ler", também sou uma pessoa chata e previsível que "adora falar" sobre os livros que "adora ler". E assim nasceu essa coluna, Bibliomaníaca.
É uma forma de tirar do meu sistema todas as lombras despertadas pelos livros que li – além de ser uma ótima oportunidade de parecer culta e inteligente na internet, já que meus tuítes não têm colaborado muito para isso.
Fiquei feliz de só ter lido mulheres neste mês: pelo menos na prateleira de livros aqui de casa a ditadura feminista está a todo vapor. Vamos lá:
NW me tocou não só por discutir meritocracia, mas por fazer isso de uma forma complexa, sem apontar dedos ou revelar uma solução simplista. O livro conta a história de três personagens que cresceram no mesmo alojamento, na periferia de Londres, e o caminho diferente tomado por cada um (Estou me esforçando para fazer esse post parecer o de um blog sério! Como estou indo?).
Leah é uma mulher branca e pobre que não vê sentido na busca por "melhorar de vida", mas o fato de que todos ao redor dela esperam que ela faça isso a deixa em crise. Natalie, a melhor amiga de Leah, é uma mulher negra que conseguiu se tornar uma advogada rica. Para ela, sucesso é apenas uma questão de esforço e força de vontade – ou é isso em que ela quer acreditar. O ponto entre as duas é Felix, um dependente químico e ex-traficante que deseja mudar de vida, como Natalie, mas não consegue sair de onde está, como Leah.
Zadie Smith usa a troca de narradores para te fazer empatizar com perspectivas diferentes sobre o discurso da meritocracia. As mudanças de estilo no texto de fato refletem a personalidade e o dilema de cada um. O capítulo de Leah é denso e custa a ser terminado, a sensação é de estar parado no tempo, como a própria Leah desejaria estar; o de Natalie é organizado e objetivo, mas fragmentado; o de Felix é ágil, mas caótico.
Um dos pontos mais marcantes em NW é a perda de identidade dos personagens que conseguem subir na escadinha da mobilidade social – Natalie não pertence mais à periferia, mas o fato de ser negra a impede de ser aceita na elite da qual ela gostaria de fazer parte (Stephanie Ribeiro fala sobre esse conflito interior entre raça e classe neste artigo para a revista TPM).
O grande dilema de Natalie é descobrir qual é a identidade dela. Como ela pode saber quem é se deve estar constantemente performando para agradar à branquitude rica? Estou falando muito sobre a Natalie porque ela foi minha personagem favorita, o que me faz pensar que não sou objetiva nem muito boa nesse negócio de resenhar livros. Espero que não tenha nenhum estudante de Letras me lendo aqui!
Para quem não conhece, a Cat Marnell é uma escritora estrelinha lá na gringa que passou pela revista Lucky e os sites xoJane e Vice. Cat começou a fazer sucesso na internet com a coluna dela para o xoJane, em que escrevia ensaios pessoais misturando recomendações de produtos de beleza com relatos honestos sobre seu vício em drogas (anfetaminas e qualquer outra substância, ilícita ou prescrita, que você consiga imaginar).
How to murder your life é autobiografia de Marnell, que vai desde a infância em um bairro de luxo com os pais psiquiatras e controladores até o sucesso dela como escritora. O tema mais presente é o embate entre ambição profissional e o vício, e como o segundo sempre acaba sendo mais forte.
Li esse livro por causa da resenha da Clarissa Wolff, e no vídeo ela diz que How to murder you life lhe remeteu a The bell jar, da Sylvia Plath.
Ambos são sobre escritoras jovens e ambiciosas que conseguem oportunidades profissionais incríveis, mas acabam seguindo um caminho diverso do planejado por conta de uma doença mental. O estilo de Marnell e Plath, porém, é bem diferente: a primeira é muito mais engraçada e efusiva do que a segunda, e acho que isso se deve também a diferença entre os transtornos retratados.
Cat diz que queria que seu livro fosse parecido com uma coluna de fofocas. Ela escreve daquele jeito pilhado, cativante e nervoso das pessoas sob o efeito de estimulantes, e a leitura corre – li o livro em um dia. A escrita Sylvia Plath em The bell jar é mais amarga, melancólica e langorosa, o que faz sentido, já que a personagem principal do livro, Esther, tem depressão. Ambos livros me deram uma sensação de peso no peito bem parecida.
Primeiro porque essa precisão de cada estilo te ajuda a entrar na mente das personagens e se identificar com o elas estão vivendo. E segundo porque, por mais que The bell jar termine com um recomeço, ele não parece trazer nenhuma redenção da Esther. O mesmo acontece com How to murder your life.
Ao contrário das autobiografias e dos relatos que costumamos ler de dependentes químicos, o livro não parte da perspectiva de uma pessoa que conseguiu parar de usar drogas. Não há resolução. Cat Marnell continua usando anfetamina, ainda que numa quantidade menor do que nos momentos mais graves da história.
How to murder your live suscita um debate interessante quanto ao vício e o silêncio em torno dele. Existe a expectativa de que quem é dependente só possa se expressar caso já esteja "curado". Isso, em vez de ajudar, dificulta a recuperação de quem não consegue ou não quer parar. Cat fala sobre isso nesse artigo para xoJane, Sobre a morte da Whitney Houston: porque nunca vou me calar sobre meu uso de drogas.
Enfim, eu vou calar minha boca agora porque poderia falar sobre esse livro por horas. Tudo que você precisa saber é que ele é ótimo, e realmente espero que vire um filme e/ou uma série da Netflix!
(Ok, só mais uma coisa: o gosto musical da Cat é maravilhoso. Ela consegue ambientar cenas muito bem usando músicas como referência, como quando ela cheira cocaína pela primeira vez, ao som de Fame, do David Bowie. Ou quando ela está ouvindo Lucky da Britney Spears e recebe a ligação avisando que conseguiu um emprego na Condé Nast.
Vale muito a pena ler o livro ouvindo as canções que são mencionadas no texto, então fiz uma playlist no Spotify com as músicas, na ordem de aparição – está aqui embaixo, no final do post.)
Ela é maravilhosa porque consegue fazer humor com assuntos pesados como vício, depressão, doença auto-imune e bulimia sem ser escrota ou superficial. Ela também é capaz de tirar uma reflexão iluminadora de supostas trivialidades: nudes, ser ignorada no chat, fetiche por vômito (ok, talvez isso não seja tão trivial assim).
Não sei porque não importamos as coisas boas da França (queijos fedidos e aborto legal) em vez das coisas ruins (extrema direita e escrita acadêmica prolixa). Eu queria muito gostar desse livro, mas ele dá voltas e voltas em vários temas e não parece que leva a alguma conclusão.
Não quero dizer que a Saffioti escreve mal! Provavelmente sou eu que não tenho conhecimento o suficiente em escrita acadêmica para entender porque ele foi feito desse jeito – e também nunca excluo a possibilidade de ser burra demais. Se algum de vocês manja do assunto e pode me iluminar nos comentários, não se acanhe.
Este é um livro que não tem paciência para quem está começando, mas se você já manja um pouco de teoria feminista é um bom modo de conhecer mais autores e se aprofundar. Gênero, patriarcado e violência também traz vários dados interessantes sobre violência contra a mulher no Brasil e mostra como a legislação brasileira não é nem um pouco amigável com a gente.
Um dos pontos que considerei mais incríveis no texto é a análise sobre como o uso do termo "gênero" pode servir para esconder que são os homens os agentes de violência. Por isso, a Saffioti defende que o conceito de "gênero" esteja sempre atrelado ao de "patriarcado" (Você ficou empolgado com essa ideia? Eu fiquei muito empolgada com essa ideia!).
Espero que essa experiência não tenha sido tão horripilante assim para você! Nos vemos no próximo mês. E aqui está a playlist de How to murder your life:
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