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The Love Witch: investigando a mulher louca por macho
Euforia é um sentimento quase alienígena para mim, então faço questão de celebrar quando ele surge. Dessa vez, a causa foi The Love Witch (2016), filme escrito, dirigido e editado pela americana Anna Biller. Basicamente, Biller parece ter reunido todos meus principais interesses em um só filme: Velha Hollywood! Technicolor! Tarô! Bruxaria! Uma sósia da Lana Del Rey! Homens morrendo!
The Love Witch conta a história de Elaine, que vira uma bruxa após ser abandonada pelo ex-marido abusivo. Elaine sofre de um caso grave de obsessão por macho e utiliza seus poderes recém-adquiridos para fazer os homens que conhece se apaixonarem por ela, com resultados desastrosos.
Uma das reclamações de Biller quanto à recepção do filme é o fato de a crítica focar apenas na direção de arte, reduzindo-o a um pastiche aos B-movies dos anos 60 e 70, em vez de analisar os temas explorados por ele. Isso é bem compreensível, já que The Love Witch não é exatamente óbvio, e reduzí-lo apenas a cenários extravagantes é mais fácil do que se aprofundar na discussão proposta.
Mesmo quem se aventura a elaborar algo além disso parece derrapar em passos falsos. Na resenha publicada no Jezebel, por exemplo, a protagonista é descrita como uma mulher que "retoma o próprio poder, e o utiliza contra o sexo oposto". James Franco, na coluna do Indiewire, também enxerga Elaine como um modelo feminista, uma versão feminina do Casanova que "agarra homens pelo pinto".
Mas se a gente assistir ao filme com cuidado, relacionando-o com as nossas próprias experiências, podemos perceber que a personagem principal está longe de ser uma mana empoderada. Por mais visualmente belo que seja, The Love Witch foi uma experiência incômoda para mim porque ao mesmo tempo em que me identificava com Elaine, sentia repulsa – e também desejo de ser ainda mais parecida com ela. Ela não é uma heroína feminista, nem uma vilã: é apenas uma mulher heterossexual que deseja ser amada.
"Me envie um homem bonito e doce" |
Ao me relacionar com homens me sinto navegando entre esses dois modelos, almejando ser alguém igualmente caseira e sexualmente titilante, alguém que dominasse completamente as "artes femininas" e estivesse sempre impecável, ao mesmo tempo em que fosse espontânea e liberal. Quando assisto a esse filme, brota em mim a vontade de assar bolos perfeitos e petrificar homens com o meu olhar, mas há algo de assustador no quanto o desejo por ser amada controla a vida de Elaine – assustador precisamente porque me identifico com essa narrativa, e gostaria de não me identificar.
Quando criança, li um relato sobre uma mulher que acordava todo dia 15 minutos mais cedo antes do marido sem que ele soubesse para escovar os dentes, pentear o cabelo e lavar o rosto – assim, quando ele acordasse, sempre veria uma mulher bela ao seu lado. Essa história, na época, não me assustou. Parecia apenas mais um dos "segredos" de ser mulher, uma das técnicas que eu deveria aprender para executar a minha misteriosa função nesse mundo.
Você me faz querer ser como uma daquelas garotas
Dos anos 1950, usando aquelas pérolas gigantes
Eu vou te fazer café da manhã, café na sua mesa, sim
Desculpe, queimei sua torrada, baby, eu ainda sou a melhor
– Puppy Love, Lana Del Rey
A figura de Elaine se relaciona muito bem com Lana Del Rey no sentido em que ambas emulam um ideal de feminilidade retrô, remetendo ao glamour das atrizes da Velha Hollywood, desde ao visual ao tom de voz e aos gestos calculados. Esse glamour, que parecia emanar unicamente da personalidade das atrizes, tornando-as únicas e especiais, na verdade era adquirido por meio de esforço dolorido.
Lauren Bacall ganhou a voz rouca que a tornou icônica graças a horas gritando versos de Shakespeare sob a tutela do seu instrutor de voz. O cabelo platinado de Jean Harlow era fruto de uma combinação altamente tóxica de amônia e alvejante. O rosto de Marilyn Monroe? Resultado de horas de maquiagem. Como as roupas eram justas demais e não podiam amassar, era comum que as atrizes "descansassem" em macas ligeiramente diagonais nos intervalos de gravação.
Somos levadas a acreditar que é possível adquirir alguma dessas qualidades que tornaram essas mulheres estrelas (e portanto dignas de serem amadas e desejadas), seja emulando um corte de cabelo, aplicando uma maquiagem semelhante ou então criando o nosso próprio visual "único".
The Love Witch nos coloca diante desse processo de emulação, e revela o desespero por trás dele. Elaine deseja se tornar a mulher absurda fantasiada por homens, conforme descrita por Sady Doyle em Trainwreck:
Ela se manifesta quando ele se manifesta; se inclina quando ele se inclina; declara amor quando ele declara; quer sexo quando ele quer sexo; se afasta quando ele se afasta. Quando ele vai embora, ela desaparece.Mas quando Elaine obtém sucesso na conquista, o resultado não é o idealizado. Aqui, Biller faz uma excelente sátira ao demonstrar como a relação entre ocultismo e conservadorismo pode ser mais próxima do que o imaginado.
Adestrada pelos conceitos de feminilidade empoderadora proclamados pelo seu coven, Elaine procura "polaridade", um homem que seja tão másculo quanto ela é feminina. O problema é que a paixão tem o inconveniente de nos tornar inseguros, carentes, dependentes, vulneráveis – características nem um pouco másculas, o que faz Elaine se lamentar sobre como seus amantes se tornaram "iguais a uma menininha".
Quando sentem paixão, os homens de The Love Witch não conseguem lidar com os próprios sentimentos, já que vulnerabilidade é oposto ao que foram ensinados a associar à própria identidade: "É isso que mata os homens no meu filme - ter que vivenciar os próprios sentimentos", diz Biller.
Um homem másculo é, pela definição da coisa, incapaz de se apaixonar. A última "vítima" de Elaine, o sargento Griff, se recusa a ceder: "O amor é mole. Um homem pode ser destruído por algo assim. É como se ele nem fosse mais um homem. Eu nunca quero ficar desse jeito."
As exigências masculinas sobre o que seria uma mulher ideal e a obsessão da protagonista em realizá-las são justamente aquilo que a impede de se apaixonar e viver um relacionamento saudável.
O três de espadas, a carta que augura o destino de Elaine desde o começo do filme, simboliza "desencanto, tristeza e lágrimas em relação a resultados idealizados"*. É um arcano que me remete a concepções equivocadas que nos fazem sofrer, e como a cura está em nos libertar delas. Em The Love Witch, podemos encarar que concepções equivocadas são estas, e a extensão em que ela envenena a vida amorosa de mulheres hetero e bissexuais. ✨
Ei, talvez você goste desses textos aqui também: O enigma da blogueira que não conseguia parar de escrever sobre macho, O estupro segundo Jodorowsky e Nove semanas e meia de abuso.
Livros que me ajudaram a escrever essa análise: Trainwreck, de Sady Doyle; Hard-core Romance e Why love hurts, de Eva Illouz; A dialética do sexo, da Shulamith Firestone; e O segundo sexo, de Simone de Beauvoir.
*Definição do livro Curso Completo de Tarô, do Nei Naiff.
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